quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Aquilo que o mundo precisava saber


Um dia resolvi falar com o mundo, mas não tinha o seu endereço. Precisava urgentemente contar todas as novidades, os dramas, as ânsias. Busquei numa caderneta antiga que guardava numa gaveta da sala, no armário do quarto e por todo o resto da casa. Confesso que cheguei até a telefonar para outros amigos, mas também nada sabiam. Um alguém me disse para tentar ligar, mas descobri que o mundo não tinha telefone, já que era mudo, mas sabia ler e escrever como ninguém. Eu precisava daquele endereço. Fui então até os correios, mas disseram que ele havia mudado o cadastro e realmente não havia alma que soubesse onde o mundo foi morar. Resolvi começar a carta antes do endereço. Linha a linha narrei tudo que tinha que narrar. Das noites mal dormidas pensando em problemas, até os mais tranquilos sonhos repousados no futuro. Descrevi com detalhes os planos e intrigas. Fiz esquemas, desenhos, inovei meu molde de carta. Deixei cair uma lágrima no papel. Torci a letra em outra parte gargalhando. Fiz três pontos para omitir. Estava pronta. Já tarde deitei-me deixando a folha sobre a escrivaninha. Fixei meus olhos no teto alguns instantes com um leve sorriso. Amanhã o mundo há de ler minha carta. Me lembro apenas de acordar com um vento forte em meu quarto que fez a mesma voar veloz de cima do aparato para a noite lá fora bem escura. Fora entregue e o próprio destinatário veio buscá-la, pensei. Isso aconteceu em 1941. O mais incrível é eu encontrar a mesma carta agora neste museu sobre a guerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário