sábado, 24 de março de 2012
65.864.468
Quando se está aqui, não se está lá, e é por isso que ainda escuto a sua voz alta em minha cabeça apesar de já fazer mais de 65 horas e meia que você deu seu último suspiro. Meio-fio molhando, onde brinco de equilibrar delicadas opiniões que guardei pelas 864 horas que convivemos, junho e alguma coisa. Talvez se o sapato tivesse sido guardado propriamente naquele armário antigo, o chão não estaria não vazio. Não é incrível como conseguimos por uma calçada dentro da sala? Em cima da geladeira o pinguim não faz mais sentido, por isso resolvi comprar este anão de jardim para substituí-lo. Dei uma volta e meia para tentar encontrar algo que fosse mais a minha cara do que a sua, por isso hoje almocei caranguejo mesmo sendo alérgico a frutos do mar. O que é mais engraçado é que mais me faz achar sem graça alguma aquele presente que me faz lembrar de você, mesmo não sendo você quem tenha dado ele para mim, uma completa inversão de papeis. Esperar que eu, por ser quem sou, te dê algo em que o abstrato sentimento tenha sido projetado, jamais. É sempre bom não deixar vestígios de nossos erros, disse a voz utilizando de seus fonemas que ainda conseguem ferir tímpanos meus. Diga se achar que dizer muda ou não algo, falando assim te coloco numa situação em que, invariavelmente, fazer ou não algo já é obedecer, que lamentável. Nunca pensei que palavras pudessem ser assim, de maneira simplória, bem utilizadas para dar nó em palito de fósforo apagado. Está então, aqui, aquilo que deveria ter dito antes que as 468 tivessem terminado, tempo em que os problemas começaram. De saldo, ganhei uma bota para enfeitar o armário da sala. Quem sabe o anão da geladeira não perca a sua e precise de uma. Genial.
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