sábado, 15 de maio de 2010
Romantismo no Séc. XXI
Todo dia acordo com uma vaga lembrança do seu sorriso. Todo dia fico esperando naquele degrau você passar com os suaves cabelos platinados e a mesma cara tonta. Todo dia virou dia de seguir tua sombra com os olhos na esperança de um contato. Todo dia é dia de platonear.
Já não lembro mais como isso começou. O tempo, esse mal, passou mais depressa que teus passos. Enganou-me e arrastou-me por vários e vários messes. Ah meu amor, perdoe-me por não domar o tempo; Mas é que meus olhos, tão obstinados por você, não alcançam mais os relógios. Quisera eu não estar assim tão entregue a esse devaneio de Outono. Se isso começou com uns goles de destilado, ou por um mero contato visual, não recordarei. O que importa meu amor é que todo dia por esse degrau você passa. E até quando passará?
Destino torto trouxe-me para cá. Destino louco deixou-me a tua sombra encontrar. Presente bárbaro. Presente tempo. Repito e repetirei até me cansar, se é que isso é possível, obrigado torto-louco. Ouço passos. Vejo sombra. É você mais uma vez. Balsamo perfume aquece meu peito. Incendeia mais uma vez desejo de lhe abraçar.
"Ae meu, tem isqueiro?"
Perplexo, seus olhos fixaram nos meus. Um tanto perdido toquei o bolso buscando um isqueiro. Aqueles castanhos profundos hipnotizavam-me. Sentindo o isqueiro com os dedos, trouxe-o até a altura em que a alva mão de minha amada com unhas bem feitas, poderia pegar. Fechou os olhos lentamente, ateou fogo num cigarro mentolado.
"Valeu." - Disse-me devolvendo-o majestosamente, e seguiu seu caminho com o característico caminhar.
Estava fora de mim. Respirando fundo, apenas conseguia mirar aquela belíssima figura afastar-se. Fora um sinal, de fato. Não. Algo não estava certo. Quem era aquele que a abraçava? Nunca o vira antes! Como ousa tocar minha amada dessa forma?
Não pude crer! Era um beijo!
Todo dia acordo com uma vaga lembrança do teu sorriso. Todo dia fico esperando naquele degrau você passar com os suaves cabelos platinados e seu filho no carrinho. Todo dia virou dia de seguir sua velha sombra com os olhos na esperança de um outro contato. Todo dia é dia de recordar quando você ainda podia andar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Muito lindo o texto; mesmo.
ResponderExcluirBem Àlvares de Azevedo...
ResponderExcluir