quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tabaco Bataco

Hoje meu cigarro acabou. Passou um vento e o tirou de minha boca. Vai ver penada alma anseia prolongar minha existência. A taça de vinho também caiu no chão, mas ai já achei demais. Talvez queiram me matar de sede. Qual o problema com meus vícios? São a companhia que escolhi para levar o resto da vida. Uns gostam de cachorros outros de cachimbo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Autoritária Arte

Você é o tolo. O tonto-bobo de que rio em tela cheia. Você é a representação para além do palco.A parte inteira que dança errado nas esquinas da cidade. Você é dito e feito.Intenso insano que já conquistou até aquele pobre bêbado. Acorda artista! Hoje cheguei mais cedo.Vim batucar alto, profanar bobagens, desfazer o concreto. Levante este corpo, seu estorvo. Toma lá seu banho e faça uma meia. Me dá um cigarro ai Seu Andrade para começar a produzir.

(...)

Se você for me procurar, meu amor. Vá ao Rio de Janeiro. Se estiver perdida, procure na Rua das laranjeiras. Eu estarei lá andando com aquela mesma capa de chuva e o mesmo livro na mão. Meu olhar estará escondido pelos óculos de sol. Não fique impressionada se me achar magro demais, ou já muito velho. É que o tempo passa para todos nós, e o presente já é passado quando me projeto para imenso futuro, apesar do meu imenso ser curto pela avançada idade. Se quiser me encontrar, meu amor. Lembre-se de chegar com um sorriso adorável, de braços abertos, de sapatilhas pretas e vestido branco. Se ainda puder, venha acompanhada de sua cadelinha. Aquela que costumava levar para passear sempre às nove horas da manhã até o Largo do Machado. Sente-se ao meu lado e ponha-se a contar todas suas novidades sem pressa. Teça com suas palavras para que eu possa descobri em que o tempo te converteu, até que eu, já sem forças, (...)

sábado, 18 de junho de 2011

O Porto


Um dia eu fui para nunca mais voltar. Eu queria ver o que tinha aqui pra comparar com o que tinha lá. Chegando aqui, notei que a diferença era maior do que esperava.Por aqui há velhos, daqueles bem apaixonados e de cabelinhos brancos, barcos de pesca parados num longo rio que atravessa a cidade. Pontes metálicas que ligam o aqui e lá próximo. Os jovens daqui são como de lá. Riem. Bebem. Querem ser o são, jovens. Eu sei que sou o mesmo que uma vez fora de lá, mas somei com um algum que é daqui. Já não sei te dizer bem quem sou. Se sou aquele que vivia nos trópicos, ou se sou o que vive num velho mundo, não sei. Ouço que lá é agora mundo do presente e que aqui o brilho está desaparecendo. Eu não acho. Acho que o lá e cá, apesar de ser num só, não é se parecem tanto assim. Falando em jovens, tenho conhecido alguns por aqui. Um deles me contou ser de outro lá, mas não tão longe quanto eu. Disse-me que de onde vem, há mulheres que dançam com castanholas e touros que correm atrás de multidões. Seu nome não interessa, mas seu olhar sim. Estranho pensar que tem apenas uma semana que cheguei e que já me deparei com tal figura. Cabelos marrons lisos, pele suavemente bronzeada, sorriso branco. Convidou-me para um café, aceitei. Contou-me sobre sua vida inteira, ouvi. Sorriu, eu ri. Notou, escondi. Falou, confirmei. Rimos, abracei. Um dia eu fui pra nunca mais voltar. Eu queria o novo. Ansiava ver além do horizonte da praia das conchas. Cá estou eu. Do outro lado do mundo, mas ainda nele. Em outro abraço, mas com o mesmo saboroso sabor de café na boca. Eu fui para nunca mais voltar.