terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Do hoje ao amanhã. Do agora ao depois.


Fechar os olhos para nunca mais abrir. Os ouvidos para não ter que suportar lamentações em vão. Dar um basta em toda essa palhaçada que já não tem mais graça alguma. Chegamos, aqui, ao fim. Caminho curto, sem muitos atrativos. Como uma pista retilínea com pouquíssimas alterações que fazem aquele que por ali trafega balançar. Não importa mais, chegamos ao fim. Também é começo de algo que não precisa ser nomeado ou significado, mas isso não o faz menos importante que o que foi contato até este ponto. É o fim, É o fim, É o fim. As algemas liberam braços magros, as olheiras agora irremovíveis, a alma mais leve do que nunca. Coração já pulsando suave, cérebro desligando aos pouco. Lá se vai. Laços que se desatam aos poucos, vozes lá longe, sensibilidade perdida. Termina, para começar de novo. É sono. Vem o sonho, colorindo ou escurecendo, confortando e assustando. Onírica dimensão em que o cansaço do corpo não faz mais sentido, que as mazelas do corpo são esquecidas em outro lugar. Aqui cegos enxergam, surdos escutam. Caminhar é volitar, ter é pensar, saber é mérito do esforço. Quem diria que o começo seria belo dessa forma. Bendito seja o fim, que veio acalantar. Volta lento para si. Cegueira e surdez chegam ao ritmo das algemas que envolvem os pulsos dos coitados. Retorna. O alarme. Hora de acordar de novo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A partilha


Suave toque. Mãos que se encontram. Brisa de novas perspectivas. Risadas. Chuva. Sol. Chuva de novo. Céu que não quer se decidir, assim como nós que não temos pressa para nada. Sapatos molhados. Poças por todos os lados refletindo o infinito lá em cima. Um partilhar de fones de ouvido. Uma página de livro a mais virada. Olhos que se percebem. Rostos rubros. Era isso. Voltas e mais voltas pela Lagoa. Aventuras. Dramas. Medos. Sonhos. Semelhanças e diferenças postas. Das coisas banais até ideologias complexas. Desvendar de um mundo tão próximo que chegava a se confundir com o meu. Era isso. Estavam deixando viver do melhor jeito possível, compartilhando.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Tecidos


Ás vezes alguém pode saber mais sobre aquilo que achamos saber o suficiente. Remodelar a mente, corpo, alma e tudo mais que pertence menos à gente do que podemos imaginar, é preciso. O tempo, que tudo atravessa, age em espaços infinitos, que nossa insignificância não consegue alcançar. Deixa escorregar pedras da montanha, mar encontrar areia em praia, vulcão cuspir toda sua ira. Tem horas que devemos simplesmente deixar. Há coisas que agem para além de nossas vontades, ainda que tudo esteja conectado, nem tudo se define por movimento do eu. Dependência e Interdependência se abraçam num caos belo que compõem a vida. À exaustão tentamos dar sentido para toda a desordem, até que um dia compreendemos que é tudo um passatempo. De que vale tudo isso? Vale é o quanto nossos vestígios vão conseguir se perpetuar em meio ao caos. Vale saber que se vive sempre até o cair do último homem, e mesmo assim, é possível que se viva em outros modos de perpetuação. Por isso hoje acordei querendo ver mais do que já vi, escutar mais do que acho que já sei. Queria ouvir aquele que falava e todos os vestígios para, quem sabe, conseguir ajudar a outros que precisam de perpetuação, bem como, muito em breve, eu precisarei. Assim, carrego meu carretel e agulha. Não importa a cor, ou se o tecido que compuser será bonito ou não. Interessa-me é tecer, tecer e tecer.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Até breve



Foi ali que eu passei a acreditar quando ela me disse que anjos estavam sempre ao nosso redor, mas só apareciam para aqueles que realmente os desejavam ver. E como foi? Era como se nada mais importasse. Nada o que? Tudo. Entendo. Chegaram a conversar? Sim e não. Explique-se. Eu não precisava falar, nem o anjo, mas entendia o que queria me dizer. Você está bem? Dor de cabeça de novo. Quer que eu chame alguém? Não. Daqui a pouco vai passar. Tem alguma coisa que eu posso fazer por você? Acho que agora não tem mais o que fazer. Melhor eu ir de uma vez. Ainda tem alguma chance de você. Tem, mas enquanto ela não chega prefiro continuar de longe. Quem sabe uma dia quando o orgulho perder sentido tudo se resolva. Até breve...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Aquilo que o mundo precisava saber


Um dia resolvi falar com o mundo, mas não tinha o seu endereço. Precisava urgentemente contar todas as novidades, os dramas, as ânsias. Busquei numa caderneta antiga que guardava numa gaveta da sala, no armário do quarto e por todo o resto da casa. Confesso que cheguei até a telefonar para outros amigos, mas também nada sabiam. Um alguém me disse para tentar ligar, mas descobri que o mundo não tinha telefone, já que era mudo, mas sabia ler e escrever como ninguém. Eu precisava daquele endereço. Fui então até os correios, mas disseram que ele havia mudado o cadastro e realmente não havia alma que soubesse onde o mundo foi morar. Resolvi começar a carta antes do endereço. Linha a linha narrei tudo que tinha que narrar. Das noites mal dormidas pensando em problemas, até os mais tranquilos sonhos repousados no futuro. Descrevi com detalhes os planos e intrigas. Fiz esquemas, desenhos, inovei meu molde de carta. Deixei cair uma lágrima no papel. Torci a letra em outra parte gargalhando. Fiz três pontos para omitir. Estava pronta. Já tarde deitei-me deixando a folha sobre a escrivaninha. Fixei meus olhos no teto alguns instantes com um leve sorriso. Amanhã o mundo há de ler minha carta. Me lembro apenas de acordar com um vento forte em meu quarto que fez a mesma voar veloz de cima do aparato para a noite lá fora bem escura. Fora entregue e o próprio destinatário veio buscá-la, pensei. Isso aconteceu em 1941. O mais incrível é eu encontrar a mesma carta agora neste museu sobre a guerra.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A surpresa


Mais uma vez está ali me observando. Para de me olhar. Para de me olhar. Para de. Oi, tudo bem? Tudo. Olhos verdes fixos. Pele perfeitamente esculpida. Cabelos bem cuidados. Sorriso de tirar qualquer um do sério. Não vai perguntar como eu estou? Engole seco. Tudo bem? Tento retribuir a simpatia. Não. É que você sempre ficar me olhando, mas nunca fala comigo. Não aguentei mais esperar e vim falar com você. Me espanto. É que. Que você quer falar algo comigo? É. Não sei. É que. Pega na minha mão. Tá afim de sair hoje depois do trabalho? Podemos jantar e você me conta o motivo de me observar há quatro meses. Está falando sério? Passo aqui mais tarde. Carinho em minha mão e se afasta. O que era aquilo! Eu realmente. Nós. Sério?! Começo a rir.

sábado, 5 de novembro de 2011

As veias de Inês


Me ofereceram um nome. Queriam figurar um tal personagem que não sabia muito bem sobre o bom senso e se envolvia em mil confusões. Ela me disse que há muito tempo tinha vivido com seus pais viajando com o circo por algum lugar perto de Santiago. Me mostrou uma foto do memorial Veias Abertas. Fui ver meu rosto no espelho, não sei para quê já que não o reconhecia. Fora tocar piano enquanto me narrava outros fatos de sua vida. Ouvia. Ouvia. Ouvia. Com ela eu era tão paciente. Desvendava amazônias, montanhas em Calafete e tudo mais. Estava bêbado de tantos flashes memoriais. Boca torta, mente confusa. Desculpe-me por não me recordar de tudo como deveria. Depois disso só lembro dos policiais chegando e Inês deitada sobre o piano sonhando sei lá com o que.

You've got (1) new message



"Luisa, me desculpe por ter ido embora sem me despedir. Não sabia como falar com você, mas acho que essa música explica como estou me sentindo. Saudades, Lucas."

Tap the world, across the moon



Emily cantava com a mesma doce voz embalada pelo ritmo suave. Eu sozinho buscava por uma companhia. Caminhava por aquela praça vendo silhuetas de gente de todos os tipos fazendo compras em barraquinhas de diversos artigos. Eram tecidos, artesanato, comida e sabe Deus o que mais. O chão era de pedra portuguesa. O ar tinha uma certa nebulosidade que ocultava o adiante. Ao nosso redor prédios difusos e ruas comuns, nada de especial. Vegetação pouca, exceto por algumas arvores, creio que era palmeiras embora não tenha olhado para cima. Enquanto tal cenário me acolhia estranhamente Emily continuava a cantar "Tap the world, across the moon". Foi então quando vi um grupo de silhuetas perto de uma arvore pregando papeis com diversos desejos. "Ajude minha mãe"; "Preciso de um emprego"; "Olhem pelos nossos políticos". Olhei para baixo. Havia uma cesta de retalho com pequenos papeis em branco e um lápis simples preto. Aproximei-me e escrevi "Faça com que alguém apareça".Igualmente preguei na arvore o pedido e me afastei. Continuei a vagar pela praça em busca de algo que não sabia dizer. Meus passos ao lento ritmo da cantoria suave. Foi quando olhei para um retrato e vi aquele rosto.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

(Re)Contato


A julgar pelo modo como falava parecia ser de fora. Tinha aquele sotaque de espanhol com um português paulistano. Dizia alto como se assim o outro fosse entender melhor. Quando se aproximou de mim, abri espaço para passar. Vai saber para onde foi depois. Eu? Eu fiquei lá. Parado. Olhava o mar e as pessoas a brincar. Eu de terno, eles de roupas de banho. Estava em horário de almoço, mas não tinha fome. Tudo o que queria era apenas me dar uma hora para observar gente vivendo. Queria ficar ali. Inerte. Concentrado no tudo a fim de captar o máximo que minha percepção conseguisse. Desejava sentir a viva em movimento atravessando a mim, a todos, ao todo. Não tenho ideia do que me motivou a buscar tal experiência. Isso pouco importa também. Aos poucos eu me deixava ser, para além de mim, brisa de maresia, poeira de asfalto, quente luz solar, barulho misto indecifrável e mais alguma coisa que não sei dar nome. Era aquilo, naquele momento. Eu e minhas extensões. Pele com ar, com luz, com vida. É. Eu gostava de viver. Respirei fundo. Voltei a mim aos poucos. Era isso. Eu precisava lembrar que gostava é de viver e sentir.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Novidades


Senhor, soube que traz notícias para mim. De fato trago. Pois então! Bom, não sei se cabe contar aqui. Seria melhor em outro lugar? Certamente. Ora, mas então é algo grave. Não. Apenas quero poupar o possível vexame, diante de seus convidados, das certeiras gargalhadas incontroláveis que terá.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O espiral


Esquecer pra lembrar e achar graça de tudo quanto é coisa que me faz rir de piada tola menina que já não sabe se é ou não é assim que tudo deve ser feito da maneira certa que vai ser assim para todo sempre um mesmo fim que é na verdade começo de história que vi em quadros e livros que não sei se vou conseguir ler com óculos postos sobre a mesa de madeira que caiu em floresta imensa que chamaram de amazônia azul como o mar que banham corpos que se movem sobre palco espetacular como um domingo qualquer que possa trazer paz para descansar a mente confusa demais como o longo texto decorado pelos atores.

Aquele

O dia em que fui mais feliz estava deitado no seu colo debaixo de uma amendoeira. Lá longe os aviões chegavam e partiam. Os barcos atravessavam a baia. Os carros cruzavam a ponte. No dia em que fui mais feliz ri até sentir dor. Não consegui olhar nos seus olhos e você achou graça. A chuva fina nos deixou um pouco doentes. Foi quando você me contou o que não queria ouvir e eu calei. Lembra disso? Que bobeira. No dia em que fui mais feliz deixei de me importar com suas complicações. Tudo que pensava era no futuro. Burro. Não vivia o presente, ou o vivia sem a qualidade que deveria viver. Interessante ver a mesma novela se repetir do lado de lá. O lado de cá agora é tão diferente. Não tem dessas histórias. Aqui é tudo tão cinza e veloz. Corre, corre pra depressa ver chegar o dia de amanhã, do depois, do seguinte, do que mais tem pra vir. O pior é saber que é assim por querer, não por ter que ser assim.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O bronco


Vou preferir não dizer sobre o que aconteceu, tá certo? Que que tem?! Eu tenho culpa se tá cheio de gente burra por ai? Não foi nesse sentido. Claro que não. Certo. Aham. Sei. De qualquer forma a culpa não foi minha, é dessa gente que não sabe olhar com precisão para os outros. Isso não é um problema meu. Sim. Aham. Sei. Certo. Se você quer saber eu espero que eles saibam o que estão fazendo. Sério? Então foi bem melhor ter sido assim! Te contar, a sensação que eu tenho é de ter acordado de um pesadelo. Acho que foram tantas noites dormindo apenas uma ou duas horas que estou um tanto distante, como se estivesse anestesiado. Sei. Entreguei. Sim, ontem de noite. Pera, só um segundo. Qual foi meu irmão?! Tá com algum problema comigo? Qual é?! Te quebro todo! Vem tirar com a minha cara pra tu ver! ALÔ?! QUEM TÁ FALANDO?! MEU DEUS ELE ESTÁ SANGRANDO MUITO! AI MEU DEUS! Sim, no centro da cidade! Vamos levá-lo ao hospital! O rapaz o esfaqueou na garganta! Por favor venha rápido!

domingo, 2 de outubro de 2011

Uma semana no inferno. Um final de semana no céu. Rotinas.


Outro chão tocou as solas dos meus sapatos. Cobria os olhos com novos óculos escuros. Lembrava daquele sorriso. Sai pelo portão 15. Lá estava. Os abraços se abriram, nasceu um sorriso em meu rosto. Havia chegado em casa. Abraçamo-nos. Danou-se a mala no chão. Era ali meu lugar.

domingo, 28 de agosto de 2011

Relato de uma mulher tropega.

Desejava-me. Sei disso. Tinha seus olhos de águia focados em meu corpo. Queria divertir-se com matéria orgânica e somente isso. Mirava-me por cima de um copo de destilado que escondia seu nariz e seu sorriso encantador. Tinha brilho único, mas bem típico daqueles cariocas que sabem o que querem. Devia ser para lá de Botafogo. Humaitá, talvez. Falou algo em meu ouvido. Não escutei. Sussurrou de novo, me fiz de surdo. Pegou em meu braço e gargalhou, sabia que estava encantado. Contou-me sobre sua vida e me deu um beijo na testa. Queria parecer gentil para não assustar, afinal, cariocas são exatamente assim. Gostam de comer pelas beiradas, se é que entendem o que eu quero dizer com isso. Citou pensadores da contemporaneidade, demonstrou extrema sensibilidade com o uso das palavras. Era desse jeito. Graduados em canalhice, bem como todas nós, pobres otárias sonhamos. Informou-me que estava de passagem na cidade. Era lá de São Paulo, ou algo do tipo. Dei um gole e encontrei seu olhar. Mantive a fixidez por alguns instantes até voltar a beber e com algum elogio, desconversei. Certamente seria tola demais para cair mais uma vez naquele papinho mole. Ele deveria já ter os seus 30 anos e estava naquela festa sem que sua mulher soubesse, provavelmente escondendo a aliança no porta-luvas do carro. Eu tinha ciência de onde ele queria chegar e pelo tipo sabia o que ele estava disposto a colocar em cheque para conseguir. Não é uma questão de ser decente ou não, até por que eu certamente jamais aceitaria a permuta, mas de entender a lógica suja por trás dos belos sorrisos de uma noite aleatória. Foi ai que ele retirou de seu bolso um frasco com um líquido transparente. Com aquele diabólico sorriso de dentes muito bem colocados o direcionou até o meu nariz. Virei a cara. Será que o infeliz acreditou que eu fosse uma daquelas sirigaitas que adoram um teco de graça?! Revoltei-me. A noite acabara ali mesmo. Tudo era ilusão. A alegria era produto de infinitas reações químicas decorrentes da bebida, as amizades, as risadas, os papos e tudo mais eram agora manifestações do grotesco que esbofeteavam minha face. Como podia eu estar comungando de tanta barbárie?! Enojei-me do que havia me tornado. Era tão verme quanto qualquer um daqueles que viviam de tamanha sujeira. O escárnio da sociedade, a lasciva casta dos ingratos. Justo eu que tinha tudo para ser uma ótima mãe! Maria Luiza Cândido Benício Mendes. Eu era indigna, assim como todos os outros.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Aos desafetados, o afeto.


Aos desafetados, o afeto. Ponto intocável em espaço não existe. Sendo assim, tudo aquilo que é, é em estado de afeto. Pense então num dado Humano Ser, conjunto de pontos, finitas variáveis de observação-manifestação. Humano ser, por que é, de fato, e afetado por definição primária, dotado de capacidade. Defino, nessa análise, que, para o autor, desejo é combustível da capacidade-ferramenta, mero utilitário que dá forma e direcionamento à matéria. Não sejamos ingênuos de limitar Humano Ser pelo acessório [C-F], mas valorosos ao reconhecê-la como utilitário essencial para a categorização do mesmo, e, diria, até da própria taxonomia. Não é possível aceitar, dessa forma, os desafetados. São, para essa lógica linear em formato de dominó, apenas ícones hipotéticos de um universo meramente onírico ou imaginário. Praticamente não cabe a existência de tal no mundo do Humano Ser, o afeta-do(r), Complexas decomposições para complexas, ou criativas, capacidades de leitura. Se há unidade crente na existência própria, ou alheia, de desafeto, essa, a unidade, está longe de compreender a possibilidade de visão aqui destacada, não que essa seja uma privilegiada cobertura com vista para o mundo dos dotados de [C-F], já que as consequências dessa (pre)rogativa não tendem a nos levar à um caminho de comunhão com a paz ou à estagnação, mas dinamizar o sistema apresentado. Por fim, Humanos Seres sejam com suas [C-F] afetados e afeta-do(res).

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"E aquilo que resiste, persiste"

Eu (não) sei.
Eu (não) quero.
Eu (não) preciso.
Eu (não) sou fraco.
Eu (não) gosto de você.
Eu (não) penso em mais nada.
Eu (não) me irrito com isso.
Eu (não) dependo de ninguém.
Eu (não) entendo seus motivos.
Eu (não) vou te contar que cada vez que você passa por mim ou que eu me lembro de você nada mais importa e que eu estou completamente apaixonado por você.


Eu (não) te amo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Nós sabemos. Eu sei. Você não sabe. Ele não sabe. Elas sabem. Contaram para ele, mas ele não sabe. Sabem? Aquele soube e ela está sabendo. Eu não sei.

Nós sabemos. Eu sei. Você não sabe. Ele não sabe. Elas sabem. Contaram para ele, mas ele não sabe. Sabem? Aquele soube e ela está sabendo. Eu não sei. Você sabe. Ele saberá. Nós estamos por fora. Você contou. Sabe que não se sabe. Ela sabe mais que ele. Não se sabe nada. Eles falam alto. Sabe por ouvir de alguém que é amigo. Nós. Tu sabes? Sim. Ela contou pra ele que não é. Sabe pra que? Sim. Eu sei. Ela não quer saber mais. Ele disse para elas. Eles não sabem. Sabe-se. Ele é deles, mas não é nós. Parte daqueles que sabem, mas não querem saber. Eu não sei. Confessa. Ela não sabe, mas sabe assim como eu. Você me diz? Talvez. Confessou! Nós não sabemos. Sabe de que? Quem. É? Eu não sei. Se saber é saberá quando vai saber, ela falou. Eu disse que que isso não saber é não ter ou ver? Tem, mas não vê. Eu veria se visão tivesse. E não tem? Eu não sei. Sabe-se lá que eles tem visão de algo que não sei dizer o que. Eles têm. Nós vimos. Ela viu que eles viram, mas eles não viram nada por não ter visão. Ele viu. Não tem. Se tivesse, elas teriam uma parte. Eu não vi a parte dele. Eu vi. Ela não têm. Se algum de nós temos, logo temos. Eu não sei. Se soubesse, veria. Eu não tive como ver, mas se pudesse teria feito. Fiz pro não saber. Elas fazem. Eu sei. É tudo sobre ver ou saber? Ter. Não sei se é isso mesmo, ou é aquilo lá, tá vendo? Sim. Se falar que falou é por ter feito. Fiz. Se confessa é por ter visto. Vi. Se viu então tem! Não.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Leitor tolo

Eu sou eu leitor. Tonto.
Eu não sou isso.
Eu sou aquilo lá.
Isso é do eu, mas não eu.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tabaco Bataco

Hoje meu cigarro acabou. Passou um vento e o tirou de minha boca. Vai ver penada alma anseia prolongar minha existência. A taça de vinho também caiu no chão, mas ai já achei demais. Talvez queiram me matar de sede. Qual o problema com meus vícios? São a companhia que escolhi para levar o resto da vida. Uns gostam de cachorros outros de cachimbo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Autoritária Arte

Você é o tolo. O tonto-bobo de que rio em tela cheia. Você é a representação para além do palco.A parte inteira que dança errado nas esquinas da cidade. Você é dito e feito.Intenso insano que já conquistou até aquele pobre bêbado. Acorda artista! Hoje cheguei mais cedo.Vim batucar alto, profanar bobagens, desfazer o concreto. Levante este corpo, seu estorvo. Toma lá seu banho e faça uma meia. Me dá um cigarro ai Seu Andrade para começar a produzir.

(...)

Se você for me procurar, meu amor. Vá ao Rio de Janeiro. Se estiver perdida, procure na Rua das laranjeiras. Eu estarei lá andando com aquela mesma capa de chuva e o mesmo livro na mão. Meu olhar estará escondido pelos óculos de sol. Não fique impressionada se me achar magro demais, ou já muito velho. É que o tempo passa para todos nós, e o presente já é passado quando me projeto para imenso futuro, apesar do meu imenso ser curto pela avançada idade. Se quiser me encontrar, meu amor. Lembre-se de chegar com um sorriso adorável, de braços abertos, de sapatilhas pretas e vestido branco. Se ainda puder, venha acompanhada de sua cadelinha. Aquela que costumava levar para passear sempre às nove horas da manhã até o Largo do Machado. Sente-se ao meu lado e ponha-se a contar todas suas novidades sem pressa. Teça com suas palavras para que eu possa descobri em que o tempo te converteu, até que eu, já sem forças, (...)

sábado, 18 de junho de 2011

O Porto


Um dia eu fui para nunca mais voltar. Eu queria ver o que tinha aqui pra comparar com o que tinha lá. Chegando aqui, notei que a diferença era maior do que esperava.Por aqui há velhos, daqueles bem apaixonados e de cabelinhos brancos, barcos de pesca parados num longo rio que atravessa a cidade. Pontes metálicas que ligam o aqui e lá próximo. Os jovens daqui são como de lá. Riem. Bebem. Querem ser o são, jovens. Eu sei que sou o mesmo que uma vez fora de lá, mas somei com um algum que é daqui. Já não sei te dizer bem quem sou. Se sou aquele que vivia nos trópicos, ou se sou o que vive num velho mundo, não sei. Ouço que lá é agora mundo do presente e que aqui o brilho está desaparecendo. Eu não acho. Acho que o lá e cá, apesar de ser num só, não é se parecem tanto assim. Falando em jovens, tenho conhecido alguns por aqui. Um deles me contou ser de outro lá, mas não tão longe quanto eu. Disse-me que de onde vem, há mulheres que dançam com castanholas e touros que correm atrás de multidões. Seu nome não interessa, mas seu olhar sim. Estranho pensar que tem apenas uma semana que cheguei e que já me deparei com tal figura. Cabelos marrons lisos, pele suavemente bronzeada, sorriso branco. Convidou-me para um café, aceitei. Contou-me sobre sua vida inteira, ouvi. Sorriu, eu ri. Notou, escondi. Falou, confirmei. Rimos, abracei. Um dia eu fui pra nunca mais voltar. Eu queria o novo. Ansiava ver além do horizonte da praia das conchas. Cá estou eu. Do outro lado do mundo, mas ainda nele. Em outro abraço, mas com o mesmo saboroso sabor de café na boca. Eu fui para nunca mais voltar.

sábado, 26 de março de 2011

Intenções

Se entrego assim de graça minhas metáforas para que possam lê-las de diversas maneiras, lembrem-se de que há uma intenção. Não tentem entrar em minha mente para saciar sua vontade de por que. Confesso que nem mesmo eu consigo entrar em minha mente. A pensar sobre isso cheguei a conclusão de que por estar inscrito nela sou impedido impede de a ler com imparcialidade; mas o trabalho é igualmente impossível um sujeito não inscrito nessa psicoesfera. Talvez minha intenção seja projetar no mundo um meta-eu que possa inspirar outras mentes a algo mais produtivo. Colo uma palavra na outra sem muito propósito até formar um conjunto razoavelmente crível de apelidar de texto. Não pensem que estou vagando no vazio ao tratar de um assunto que não possui claro interesse para específico público. Como disse, talvez o meu nada represente a voz seca de mudo indivíduo, que por força do destino, deparou-se com esta caixa de palavras amarradas.
Caso me indaguem, como é de costume, qual o sentido de tudo isso, certamente, minha resposta será malemolenta risada. Como os anjos, me privo no direito de ser bom, mau ou neutro; Não julguem que minha razão está completamente distorcida neste ponto, pois engana-se aquele que empossa neutralidade de estado imparcial. Ser sujeito apático me parece no ponto em que minha vida está uma postura no mínimo sensata. Não afirmo que sou movido de protossentimentos, mas ratificarei qualquer um que pressupor que minha percepção está alterada. Haverão algunsque aqui sentirão pena, talvez até chegarão a cogitar que o autor sofre de uma pobreza de espírito, decadência moral e até revolta descabida. A estes poucos minhas lastimas nem um pouco sinceras.
Por fim, a última colocação que tenho a fazer nesta hodierna noite trata do aspecto nada literário que estes parágrafos contêm. Se ao fim acreditam que a voz que vos fala é certamente do autor que crêem, pela lógica, ser, estão todos enganados. Quem aqui se manifesta é uma malha de vozes. Infinitos autores empíricos. Intermináveis processos de morte-vida e vice-versa traduzidos, aqui, em claro português. Eis mais um textos para famintos olhos.

Oração

Ouça-me tempo que da pia escorre para o chão! A luz abre as janelas. O vento permeia meus atônitos pensamentos. Eu não sou. Eu sou. Aquilo é. Será o que for. Falcões invadem minha sala para comer ratos que ciscam queijo. Está. Não está. Daquilo é. O Talvez se projeta em meus olhos. Entende? Compreender? Rio. Janeiro. Nada disso que você está pensando. O martelo no prego. O prego na cuca. Rio. Fevereiro. É exatamente isso. O pé no sapato. A sandália na cara. Sorrimos. Pipoca na estante. Porta no teto. Cadeira na escada. Somos todos assim caros. Eu disse. Quando digo eu, digo nós e vice-versa. Gargalho, ou “mos”. Salta coração por boca bem cuidada da manga da camisa em cima da árvore. Olha lá. Olhemos. Quem te, me, falou? Samba um rock para eu ver cantar funk clássico e dançar ballet contemporâneo. Sou eu amor. Sou eu maldito. Suave arrogante jeito de aproximar distante olhar de seu rosto. Assim será. Amém.

Ciclo do louco


Olhos agitados. Mãos tremulas. Silêncio. Luz deixando o coitado cego. Movia-se para frente e para trás. Dizia nomes baixinho. Olhos fechados com força. Olhos bem abertos. Um grito. Levantou-se. Jogou-se conta a parede. Jogou-se contra outra. Correu em circulos. Bradava. Desesperado chorou. Caiu no chão batendo com a cabeça. Chorava com força. Batia as pernas. Tentava mover as mãos atadas. Parecia uma barata agonizando com veneno. Movia o rosto perturbadoramente. Dizia nomes. Clamava por uma mulher. Debatia-se com mais força. Estava sozinho. Apagaram-se as luzes. As mãos estavam se soltando. Escuridão. Levantou-se apoiando as mãos no chão. Uma luz sobre seu corpo. De pé alisou a face. Estagnou com as mãos à face. Silêncio. Escuridão. Luz azulada sobre o enfermo. Grito de dor. Outro grito logo atrás. Grito de mulher. Luz azul iluminando-a. Grito de criança. Luz amarela iluminando-a. Escuridão. Risada do louco. Luz vermelha sobre o mesmo. Silêncio. Mulher cai morta sobre seus pés. Criança chora sobre seus pés. Escuridão. Luzes coloridas. Louco rodando sem parar em silêncio. Para de costas. Grito de horror. Escuridão. Olhos agitados. Mãos tremulas. Silêncio. Luz deixando o coitado cego. Movia-se para frente e para trás. Rezava baixinho.