terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Do hoje ao amanhã. Do agora ao depois.


Fechar os olhos para nunca mais abrir. Os ouvidos para não ter que suportar lamentações em vão. Dar um basta em toda essa palhaçada que já não tem mais graça alguma. Chegamos, aqui, ao fim. Caminho curto, sem muitos atrativos. Como uma pista retilínea com pouquíssimas alterações que fazem aquele que por ali trafega balançar. Não importa mais, chegamos ao fim. Também é começo de algo que não precisa ser nomeado ou significado, mas isso não o faz menos importante que o que foi contato até este ponto. É o fim, É o fim, É o fim. As algemas liberam braços magros, as olheiras agora irremovíveis, a alma mais leve do que nunca. Coração já pulsando suave, cérebro desligando aos pouco. Lá se vai. Laços que se desatam aos poucos, vozes lá longe, sensibilidade perdida. Termina, para começar de novo. É sono. Vem o sonho, colorindo ou escurecendo, confortando e assustando. Onírica dimensão em que o cansaço do corpo não faz mais sentido, que as mazelas do corpo são esquecidas em outro lugar. Aqui cegos enxergam, surdos escutam. Caminhar é volitar, ter é pensar, saber é mérito do esforço. Quem diria que o começo seria belo dessa forma. Bendito seja o fim, que veio acalantar. Volta lento para si. Cegueira e surdez chegam ao ritmo das algemas que envolvem os pulsos dos coitados. Retorna. O alarme. Hora de acordar de novo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A partilha


Suave toque. Mãos que se encontram. Brisa de novas perspectivas. Risadas. Chuva. Sol. Chuva de novo. Céu que não quer se decidir, assim como nós que não temos pressa para nada. Sapatos molhados. Poças por todos os lados refletindo o infinito lá em cima. Um partilhar de fones de ouvido. Uma página de livro a mais virada. Olhos que se percebem. Rostos rubros. Era isso. Voltas e mais voltas pela Lagoa. Aventuras. Dramas. Medos. Sonhos. Semelhanças e diferenças postas. Das coisas banais até ideologias complexas. Desvendar de um mundo tão próximo que chegava a se confundir com o meu. Era isso. Estavam deixando viver do melhor jeito possível, compartilhando.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Tecidos


Ás vezes alguém pode saber mais sobre aquilo que achamos saber o suficiente. Remodelar a mente, corpo, alma e tudo mais que pertence menos à gente do que podemos imaginar, é preciso. O tempo, que tudo atravessa, age em espaços infinitos, que nossa insignificância não consegue alcançar. Deixa escorregar pedras da montanha, mar encontrar areia em praia, vulcão cuspir toda sua ira. Tem horas que devemos simplesmente deixar. Há coisas que agem para além de nossas vontades, ainda que tudo esteja conectado, nem tudo se define por movimento do eu. Dependência e Interdependência se abraçam num caos belo que compõem a vida. À exaustão tentamos dar sentido para toda a desordem, até que um dia compreendemos que é tudo um passatempo. De que vale tudo isso? Vale é o quanto nossos vestígios vão conseguir se perpetuar em meio ao caos. Vale saber que se vive sempre até o cair do último homem, e mesmo assim, é possível que se viva em outros modos de perpetuação. Por isso hoje acordei querendo ver mais do que já vi, escutar mais do que acho que já sei. Queria ouvir aquele que falava e todos os vestígios para, quem sabe, conseguir ajudar a outros que precisam de perpetuação, bem como, muito em breve, eu precisarei. Assim, carrego meu carretel e agulha. Não importa a cor, ou se o tecido que compuser será bonito ou não. Interessa-me é tecer, tecer e tecer.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Até breve



Foi ali que eu passei a acreditar quando ela me disse que anjos estavam sempre ao nosso redor, mas só apareciam para aqueles que realmente os desejavam ver. E como foi? Era como se nada mais importasse. Nada o que? Tudo. Entendo. Chegaram a conversar? Sim e não. Explique-se. Eu não precisava falar, nem o anjo, mas entendia o que queria me dizer. Você está bem? Dor de cabeça de novo. Quer que eu chame alguém? Não. Daqui a pouco vai passar. Tem alguma coisa que eu posso fazer por você? Acho que agora não tem mais o que fazer. Melhor eu ir de uma vez. Ainda tem alguma chance de você. Tem, mas enquanto ela não chega prefiro continuar de longe. Quem sabe uma dia quando o orgulho perder sentido tudo se resolva. Até breve...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Aquilo que o mundo precisava saber


Um dia resolvi falar com o mundo, mas não tinha o seu endereço. Precisava urgentemente contar todas as novidades, os dramas, as ânsias. Busquei numa caderneta antiga que guardava numa gaveta da sala, no armário do quarto e por todo o resto da casa. Confesso que cheguei até a telefonar para outros amigos, mas também nada sabiam. Um alguém me disse para tentar ligar, mas descobri que o mundo não tinha telefone, já que era mudo, mas sabia ler e escrever como ninguém. Eu precisava daquele endereço. Fui então até os correios, mas disseram que ele havia mudado o cadastro e realmente não havia alma que soubesse onde o mundo foi morar. Resolvi começar a carta antes do endereço. Linha a linha narrei tudo que tinha que narrar. Das noites mal dormidas pensando em problemas, até os mais tranquilos sonhos repousados no futuro. Descrevi com detalhes os planos e intrigas. Fiz esquemas, desenhos, inovei meu molde de carta. Deixei cair uma lágrima no papel. Torci a letra em outra parte gargalhando. Fiz três pontos para omitir. Estava pronta. Já tarde deitei-me deixando a folha sobre a escrivaninha. Fixei meus olhos no teto alguns instantes com um leve sorriso. Amanhã o mundo há de ler minha carta. Me lembro apenas de acordar com um vento forte em meu quarto que fez a mesma voar veloz de cima do aparato para a noite lá fora bem escura. Fora entregue e o próprio destinatário veio buscá-la, pensei. Isso aconteceu em 1941. O mais incrível é eu encontrar a mesma carta agora neste museu sobre a guerra.