sábado, 22 de maio de 2010

O fim do reencontro.


Quando me virei para trás, lá estava você parado com os mesmos olhos vazios. Seus cabelos tão secos como as últimas palavras ditas naquela terrível fria tarde. Segurava minha mala com a mão firme. Meus pés prenderam no asfalto úmido de Maio. Seu terno negro deixava-o mais magro do que já era. Sua pesada maleta envelhecia seu ombro. Sua face começava a ser entregue ao tempo. A característica barba por fazer ainda estava lá. Com o movimento único dos lábios pronunciava seu Francês duvidoso. Com um leve suspiro e um olhar lateral observou ao redor quem o cercava. Fiquei imóvel. Pegou seu café e sentou-se na mesa. Tirou de sua maleta um livro de fábula. Livro antigo. Frágil. Deixou o vago olhar recair pelas infinitas palavras grafadas. Embalado pelo ritmo do blues com aroma de café amargo, leu. Observei seus pés escondidos em sapatos gastos, obviamente disfarçados com uma boa camada de graxa. Vi quando seus mãos cansadas tocaram seus cabelos, alisando-os para fora de seus olhos. Prendia o suspiro e apertava os olhos. Soltei a mala. Virou uma página. Andava involuntáriamente em direção a vitrine. Induzida por uma vontade alheia, tinha as mãos tapando minha boca. Nitidamente, o café alimentava-o com calor. Talvez o único que agora tinha. Tirei de minha bolsa um batom. Delinei cada letra em palíndromo. Recuperei minha mala e afastei-me. Escutava ao longe seus passos desesperados. O barulho mortal. O respeitoso silêncio. Não olhei para trás. Estava feito.

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