sábado, 28 de agosto de 2010

Do eu ao nós.

Se me entregar ao silêncio que preenche minha alma tornarei a letárgica existência de outra hora. Minhas mãos tão fracas já não conseguem tatear o escuro. Mancando, avanço pelo assoalho. As velhas cortinas do teatro arrastam sobre minha face deixando a poeira da fama em minha pele. Dançam as cortinas em ziguezague. Pavoroso escuro ao meu redor. Poltronas vazias. Teto bem alto. Luar banhando a solidão teatral. Grito. Salto e corro em círculos. Abro meus braços respirando mais uma vez como se ainda fosse vivo. Mansa luz sobre minha trajetória circular. Infinitos desconhecidos invadem de luz, salto e braços movimentados o meu palco. Atravessam os espaços escuros. Preenchem poltronas. Conversam consigo. Gargalham. Suspiram. Damos as mãos a formar uma roda que gira agora mais tranquila. Somos humanizados uns pelos outros. Somos mais uma vez vivos. Mãos que tocam mãos. Tato que certifica fluidez de consciência, ainda que todos possuam os olhos voltados para dentro de si. Assim, dançando ao ritmo de um opus de Chopin, vibramos a cada nota do piano. Assim, amores, poltronas, antigas fotografias, longas cortinas vermelhas giram em difusas imagens. Os pés vão empoeirando-se e levantam névoa pelo palco. De mãos ainda em contato somos um só grupo de dançarinos em harmonia. Saltamos. Batemos juntos os pés. Giramos mais rápido. Levantamos mais névoa. Somos mais nós que eu. Somos menos conscientes de nós mesmos. Somos mais todo e vida. A névoa nos cobre, nos envolve. nos leva.

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