domingo, 9 de maio de 2010

Não.


Não chegue assim com este bafo de leão profanando, sem ao menos pensar, falas já decoradas. Não apareça nesta soleira olhando fixo para mim se não for seguro. Não acorde esta manha caso já saiba que não vai valer à pena. Não. Não toque meu rosto puro. Não tire o brilho dos meus olhos com seus vícios e seu egoísmo. Não abrace meu corpo. Não toque meus lábios. Fique longe. Fique ai. Esqueça que um dia cheguei a sentir sua falta. Esqueça que um dia lhe contei segredos do coração. Esqueça que transformei sentimento em gesto escondido. Fique longe. Fique ai. Parado. Vire o rosto. Desvie o olhar. Não continue sendo assim tão certo sobre mim. Suma um pouco. Tome um chá. Vá ler um livro. Busque uma nova brisa em sua janela. Deixe-me aqui sentada. Deixe-me aqui sozinha. No meu quarto a meia luz encontro mais paz do que em seus braços confusos. Relaxe um pouco. Tire férias. Olvide. Abstraia. Abra sua mente para uma coisa mais produtiva do que esta peça. No final terei ido embora sem ao menos você notar. Estarei quilômetros de distância e incapaz de influenciar qualquer um de seus atos. Carregarei cada roupa para dentro da mala, e por fim partirei rumo ao desconhecido mundo que me aguarda com suas esquinas, buracos e cascos de garrafas de cerveja. Fecharei meus olhos, convicta de que haverá luz adiante. Convencer-me-ei de que o certo a fazer foi feito. E tu onde estarás? Provavelmente não saberei. Provavelmente não vou querer saber. Voltarei minhas mãos pagãs para o céu e agradecerei a um deus por finalmente voltar a ter olhos. E tu o que fará? Não terei idéia de teus passos. Não haverá vaga sombra em rua movimentada para sinalizar teus passos. Seguirei calmamente o meio-fio desta estrada rumo a qualquer lugar. Rumo ao futuro incerto e nefasto. Tudo me soará como uma forte ventania que invadiu meu quarto. Acordarei atônita sem nem lembrar teu nome. Tomarei daquele remédio forte. Voltarei a dormir. Não mais sonharei por alguns raios de luar.

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